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Mostrando postagens de fevereiro, 2025

VOCÊ VIU A FERNANDA TORRES? EU SEI QUE VOU TE AMAR!

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  A sala de casa era um universo pequeno, mas suficiente para grandes epifanias iluminadas pela Philco 43 polegadas analógica. O sofá surrado, a TV com chiado de antena e o cheiro do jantar vindo da cozinha. Eu, um garoto tímido de quinze anos, grudado na tela, acompanhava Selva de Pedra como se minha vida dependesse disso. E, para ser honesto, dependia. A transição entre a novela e o noticiário foi abrupta, como um corte seco de montagem experimental. O mundo encantado de Simone Marques desmoronou para dar lugar à voz grave do apresentador: "Brasileira Fernanda Torres vence prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes." Cannes. Prêmio. Fernanda. Meu coração disparou como em um clímax bem conduzido, os olhos arregalaram em close dramático, e minha respiração suspensa fazia do momento uma cena de absoluto impacto. O mundo ao meu redor seguiu seu curso, mas eu estava congelado no tempo, um quadro imóvel na película do meu pequeno universo. A revelação parecia um roteiro improv...

I - VOCÊS VIRAM A FERNANDA TORRES ?

  O colégio fervilhava naquela sexta-feira. O cheiro de giz misturava-se ao aroma adocicado dos doces da cantina, enquanto o barulho das cadeiras arrastadas e o murmúrio animado dos alunos ecoavam pelos corredores, sobrepondo-se ao som estridente da sirene do recreio. O burburinho era incessante: conversas agitadas, risadas soltas e uma energia coletiva de expectativa. No sábado à noite, partiríamos todos em excursão para o cinema em Corbélia. Para muitos, seria a primeira experiência diante de uma tela grande, longe da televisão pequena e cheia de chiados da sala de casa. As especulações giravam em torno dos assentos, dos lanches e da emoção de ver um filme de verdade, sem interferências, sem antena desalinhada. O entusiasmo se espalhava pelo ar, tão palpável quanto o calor abafado daquela noite de primavera. O ônibus da Mioto chegou, um trambolho de lata cansada, sua lataria amassada refletindo o sol poente. Os bancos, duros como juízo de mãe severa, rangiam a cada movimento. O m...